Apesar de um período vitorioso, com 13 títulos conquistados em seis anos, incluindo duas Libertadores, o presidente Rodolfo Landim não conseguiu eleger seu sucessor nas eleições presidenciais do Flamengo. A disputa política culminou na vitória de Luiz Eduardo Baptista (Bap), candidato oposicionista, que assumirá o comando do clube a partir de 2025. Entenda os fatores que contribuíram para esse resultado.
Rompimento de alianças e divisões internas
Nos últimos anos, a política interna do Flamengo passou por um processo de fragmentação. Landim perdeu o apoio de aliados importantes que faziam parte de sua gestão no início de seu mandato. Luiz Eduardo Baptista, que já havia ocupado cargos de destaque no clube, articulou sua candidatura de forma independente após divergências com o presidente.
A demora de Landim em anunciar seu candidato também causou mal-estar entre os membros do grupo político. O nome de Rodrigo Dunshee, escolhido para ser o sucessor, só foi anunciado em junho de 2024, em um contexto de insatisfação crescente nos bastidores.
A decisão dividiu o grupo de apoio de Landim, levando à saída de nove vice-presidentes, como Rodrigo Tostes (Finanças), Marcelo Conti (Gabinete) e Arthur Rocha (Patrimônio). Muitos desses nomes migraram para o grupo de Bap, enfraquecendo a candidatura da situação.
Alta rejeição a Rodrigo Dunshee
O nome de Rodrigo Dunshee, escolhido como candidato da situação, enfrentou resistência entre os sócios do Flamengo. Além de questões ligadas à gestão atual, a rejeição também foi impulsionada por fatores históricos e recentes:
- Histórico familiar: O pai de Dunshee, Antonio Augusto Dunshee de Abranches, ficou marcado como o presidente que negociou a venda de Zico para a Udinese em 1983.
- Associação à “velha política”: Parte dos sócios passou a relacionar Dunshee com gestões anteriores que enfrentaram dificuldades financeiras e pouca expressão esportiva.
- Gestão de crises: A atuação de Dunshee como vice-presidente geral e jurídico durante as negociações com as famílias das vítimas do incêndio no Ninho do Urubu gerou críticas públicas e nos bastidores.
Como tentativa de contornar a rejeição, Landim anunciou que, em caso de vitória, assumiria o cargo de CEO do clube, centralizando sua imagem na campanha. No entanto, a estratégia não foi suficiente para reverter o cenário.
Desgaste da imagem de Landim
Apesar dos títulos conquistados, a imagem de Rodolfo Landim sofreu desgaste ao longo dos últimos dois anos, principalmente devido a questões administrativas e esportivas.
- Trocas de técnicos: As sucessivas mudanças de treinadores durante sua gestão, com gastos elevados em multas rescisórias — cerca de R$ 50 milhões —, foram apontadas pela oposição como falta de planejamento no departamento de futebol.
- Resultados esportivos: Desempenhos abaixo das expectativas em campeonatos importantes contribuíram para a insatisfação, especialmente com as recentes conquistas de rivais, como Fluminense e Botafogo.
- Caso Gabigol: A não renovação de contrato com Gabigol, um dos maiores ídolos recentes da torcida, causou uma ruptura entre Landim e parte dos rubro-negros. O atacante chegou a criticar indiretamente a diretoria, aumentando a pressão sobre a situação.
Bap e a proposta de profissionalização
Mesmo enfrentando resistência em alguns setores devido ao que era percebido como uma postura firme e centralizadora, Luiz Eduardo Baptista conseguiu mobilizar um discurso que contrastava diretamente com as falhas apontadas na gestão de Landim.
Bap destacou a necessidade de profissionalização do departamento de futebol, buscando afastar a imagem de “amadorismo” que a oposição associava à administração atual. Ele também conquistou o apoio de nomes influentes, como Rodrigo Tostes, Cláudio Pracownik e Flávio Willeman, fortalecendo sua base política.
Mobilização recorde nas eleições
A eleição presidencial do Flamengo registrou uma mobilização histórica, com a maior participação de eleitores no século XXI. Ao todo, 3.272 votos foram registrados, superando o recorde de 3.039 votos em 2018.
Esse engajamento foi interpretado como um movimento contra a continuidade da atual gestão, com sócios que normalmente não participam do pleito se deslocando até a Gávea para votar.
Campanha tardia e erros estratégicos
Outro fator que contribuiu para a derrota da situação foi o atraso na campanha de Rodrigo Dunshee. Enquanto Bap e Maurício Gomes de Mattos lançaram suas candidaturas em setembro, a chapa de Landim oficializou Dunshee apenas em outubro.
O evento de lançamento, previsto para o final de setembro, chegou a ser adiado devido a uma troca de técnico no futebol, refletindo a falta de alinhamento entre a política e o departamento esportivo.
Influência da torcida
Embora as arquibancadas nem sempre representem o cenário político do clube, manifestações da torcida tiveram impacto. Durante partidas no Maracanã, críticas e vaias direcionadas a Landim se intensificaram, principalmente após o anúncio da saída de Gabigol.
Esses episódios ajudaram a consolidar uma insatisfação que já existia entre parte dos sócios e aumentaram a dificuldade da situação em reverter a rejeição durante a campanha eleita.
Conclusão
A derrota da chapa de Rodolfo Landim nas eleições do Flamengo foi resultado de uma combinação de fatores, como a perda de aliados, a rejeição ao candidato Rodrigo Dunshee e o desgaste acumulado da gestão nos últimos anos. Luiz Eduardo Baptista (Bap) venceu ao capitalizar o discurso de profissionalização do clube e atrair o apoio de figuras importantes no cenário político rubro-negro.
Com um pleito marcado pela participação recorde, a vitória de Bap representa um novo ciclo para o Flamengo, com desafios imediatos que incluem reorganizar o departamento de futebol e reforçar a confiança da torcida.